terça-feira, 19 de abril de 2011

NUVENS AO VENTO



No céu de um azul profundo
as nuvens baixas, brancas, esgarçadas,
ameaçam como patas de dragão.
Giram, circunvolvem, assustam
como se fossem antigravuras de Dürer,
a Morte, mas a Morte branca, de algodão e sonho.

As nuvens giram, fiapos iluminados de sol,
em pleno topo do céu.
Arquipélagos convulsos, luminosos.

O vento agita o salgueiro e o liquidâmbar.
No jardim as estátuas se oferecem nuas,
nuas de um branco terreno, sem a luz das nuvens.

Nada mais belo existe,
e a vida é um dom azul, um dom azul e branco.
Neste momento somos deuses,
deuses que temos por limite
a nossa própria pele e o azul do céu.

O tempo arredondou-se azul:
parou no azul do céu
girando como nuvem
cujo movimento fosse a pausa.
Enquanto dura a pausa, somos imortais. Imóvel
é o presente, e nele nos cravamos.


Péricles Eugênio da Silva Ramos
in A Noite da Memória

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