segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Verdade


Pelo aniversário da escritora e poeta, Laura Riding, (16 de janeiro 1.901)

VERDADE

Sempre procuramos a Verdade.
Ela tem medo de ser pega.
Livros são gaiolas.
Verdade não é um canário
Para ciscar palavras com paciência
E morrer depois de comer todas.

A verdade não gostaria de viver
Na cabeça ou na garganta ou no coração de alguém.
Não tente acha-la ali.

A verdade não é dríade pra ser punida numa arvore
A verdade não é nenhuma naiade.
A verdade certamente se afogaria numa fonte.

Deixe a terra em paz.
A verdade não deixa pegadas.
Não escute
Até o silencio se pôr com a lua.
A verdade não faz ruídos.
Não siga a luz
Que segue o sol
Que segue a noite.
A verdade dança além da luz
E do sol
E da noite.
A verdade não pode ser vista.

Deixe a curiosidade ficar em casa.
Ela pode se perder.
(A verdade freqüenta antros estranhos.)
Se, criança, o segredo se calça,
Um dia será imprudência.

Deixe a verdade em paz.
A verdade não pode ser pega.
Acho que ela não vive nada, não,
Pois teria medo de morrer, então.


Laura Rinding
In: Mindscapes
Seleção e Tradução: Rodrigo Garcia.

*********

Laura Reichental nasce em Nova York em 16 de janeiro de 1901.

Seu pai, imigrante judeu polonês, era alfaiate e um socialista engajado.
A mãe, Sadie, era filha de imigrantes judeus.
No Brooklyn, Laura tem infância pobre e instável, sendo educada pelos rigorosos princípios políticos de Nathaniel.

Entre a política e a poesia, aos 15 anos Laura opta pela última, para reprovação do pai. Mais tarde, consegue uma bolsa de estudos e ingressa na prestigiada Universidade de Cornell, se concentrando em línguas e literatura. Logo abandona a vida universitária para se tornar poeta e pensadora independente.
Em 1923 casa-se com o professor de história Louis Gottschalk.
Laura Riding Gottschalk (o nome do meio sendo invenção sua), muda-se para Louisville e passa a publicar poemas em revistas literárias pequenas como Contemporary Vérse e Poetry.

1924 é um ano importante: ganha um prêmio da revista The Fugitive, sendo saudada como "a maior revelação da poesia norte-americana" pelo grupo de poetas-críticos (fortemente influenciados por Eliot) que formaria a infantaria da Nova Crítica.lo Por terem projetos de vida diferentes, Laura e Louis se divorciam. "Os fugitivos" também sentem dificuldade com a personalidade forte de Riding e as relações esfriam.

Laura parte para Nova York, onde tem um breve período boêmio, tornando-se amiga íntima de Hart Crane e conhecendo figuras como e.e. cummings,
Malcolm Cowley e Edmund Wilson.

Na conservadora Inglaterra, Riding teve de se impor por seus próprios méritos. Ela não se encaixava nos pré-requisitos do "clube". A recepção a seu trabalho, no entanto, quase sempre é hostil (ser uma mulher inteligente, de descendência judaica, norte-americana e poeta, nos tensos e anti-semitas anos 30, não contribuía muito para sua aceitação na cena literária).

Como Jed Rasula escreveu: "Numa atmosfera poética controlada pela presença e os pronunciamentos augustos de T.S. Eliot, o primeiro trabalho certamente surgiu como uma afronta à recém-proclamada dignidade que a poesia havia alcançado. Ela surgiu, como Atena, armada até os dentes" (''A renaissance", 167).

Tudo parecia correr bem até que um evento trágico mudaria a vida da chamada "Trindade". Em 1929, durante uma discussão em que estavam presentes Nancy, Graves, e um "discípulo" de Laura (Geoffrey Phibbs), Riding se atira da janela do quarto andar do apartamento londrino (Graves a segue, se atirando do terceiro andar). Laura sobrevive da queda, passando por várias cirurgias e uma temporada no hospital. O acontecimento repercute, pois Graves é uma figura literária conhecida. Em busca de sossego e de uma vida mais barata, tão logo Riding se recupera os dois partem para a França e depois para Majorca, onde vivem seis anos de intensa atividade intelectual. Na ilha espanhola Riding recebe visitas esporádicas de amigos e admiradores, retoma a editora artesanal, sempre envolvida em projetos coletivos (como a revista Epilogue). A vida paradisíaca e utópica na ilha é interrompida pela explosão da Guerra Civil espanhola, em 1936, que os obriga a abandonar a Espanha em poucas horas. De volta a Londres, organiza e publica sua principal obra, Collected poems (1938), reunindo 181 poemas selecionados de seus nove livros anteriores.