terça-feira, 19 de abril de 2011

ÁGUA



Pudéssemos fazer-nos água, a de formas
incalculáveis, múltiplas, inconcebíveis:
macho decapitado, aranha
de infinitas teias, rosto amorfo,
água-mãe, filha e mãe nuvens.

Como ser o que és, sem ser mutável,
água,
água fêmea, púbis de virgem,
água de sexo transparente, puro seio?

Água, água de um milhão de formas,
pudéssemos humildemente
ser um só de teus espelhos,
deixando o orgulho humano
para as nuvens com a quais se ilude
enquanto sopra o vento, o vento pouco,
amargo, sem piedade.


Péricles Eugênio da Silva Ramos
in A Noite da Memória

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