quarta-feira, 13 de julho de 2011

ENTRE BELOS MATIZES . . .


Desejo,
anseio,
tocar na policromia dos horizontes,
aquém, lá. . .

e,
ao pintar-me dessas fontes
inebriar-me de belezas,
dançando com a alegria e a tristeza. . .

Roubar o indecifrável. . . dessas presenças.

E aos infinitos,
enciumados,
abandonados. . .
emprestar-lhes
meus presentes beijos.

Desejo,
anseio,
morrer entre cores
sob o olhar ardente dos infinitos,
sem que o amanhecer
discorde. . . exuberancias
com o entardecer!

Alvina Nunes Tzovenos
In: Buscas de Infinitos

INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

Velho Tema - I -


Só a leve esperança, em toda a vida,
disfarça a pena de viver; mais nada.
Nem é mais a existência, resumida,
que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida.
é uma hora feliz sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
árvore milagrosa, que sonhamos
toda arreada de dourados pomos.

existe, sim, mas nós não a alcançamos.
porque está apenas onde nós a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de Carvalho
- São Paulo (1866-1924)

MAL SECRETO

Se a cólera que espuma, a dor que mora
nalma, e destrói cada ilusão que nasce,
tudo o que punge, tudo o que devora
o coração, no rosto se estampasse;

se se pudesse o espírito que chora
ver através da máscara da face,
-quanta gente, talvez, que inveja agora
nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
guarda um atroz, recôndito inimigo,
como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe.
cuja ventura única consiste
em parecer aos outros venturosa!

Raimundo Correia

AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
raia, sanguínea e fresca, a madrugada...

E, à tarde, quando a rígida nortada
sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
ruflando as asas, sacudindo as penas,
voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações, onde abotoam.
os sonhos, um por um, céleres voam,
como voam as pombas dos pombais;

no azul da adolescência as asas soltam,
fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
e eles aos corações não voltam mais!.

Raimundo Correia
- Maranhão (1860-1911)

Desiludido

Por que te hás de aquecer ao sol dessa esperança
nova, que despontou na tua alma ingênua e crente?
Se ela é como sorriso em lábio de criança,
que se há de transformar em pranto, de repente...

A ventura completa, é céu que não se alcança,
mas que a gente vislumbra, além, perpetuamente:
esse céu mentiroso, é um céu que foge e avança,
se é maior ou menor a aspiração da gente.

Sê simples e sê bom, mas não julgues que um dia,
hás de o teu coração, repleto de alegria,
para sempre fechar, como quem fechou um cofre!

Crê que a desilusão é o sonho pelo avesso,
e que só se é feliz, dando-se o mesmo apreço
ao gozo que se goza, e à mágoa que se sofre!

Alceu Wamosy
(Uruguaiana, 1895, Santana do Livramento,1923- RS)

Saudade


Saudade . . .
Melodia perdida
no espaço . . .
Nostalgia
envolvente
na solidão
do quarto . . .
Diálogo
com o tempo
que já foi . . .
Saudade . . .
Tela do cinema
da vida . . .

Delores Pires
In: A Estrela e a Busca